Os astronautas que primeiro pousaram sobre a superfície da Lua ficaram espantados com a vasta solidão, com a total ausência de vida, com a falta de condições ambientais para o florescimento e evolução da cornucópia de organismos que surgiram na Terra. A julgar por nosso atual conhecimento do Universo, vivemos em um pequeno oásis amigável à vida rodeado por planetas e satélites invivíveis.
Na vastidão do cosmos, nosso planeta – “o pequeno ponto azul”, como o batizou Carl Sagan ao observar as imagens da Terra vista do espaço, miniaturizada como um pequeno grão de areia suspenso em um raio de luz… – é uma raridade inestimável.
Um dos poucos astros que, através de sua complexa geo-história, tornou-se capaz de abrigar e nutrir a teia-da-vida – sempre dinâmica, multifacetada e hoje infelizmente ameaçada em suas raízes pelas consequências de séculos de atividade industrial, extrativista, deflorestatória, poluente e ecocida de uma espécie-de-bichos, nós, os homo sapiens nada sábios. É chegada a hora de ouvirmos os gritos e gemidos de dor de Gaia – ou então estaremos (literalmente) fritos.
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Sempre achei bem ridículos os profetas do Apocalipse, os Nostradamus de toda estirpe, os que temiam e tremiam diante da iminência do Bug do Milênio, dentre outros lunáticos paranóides que confundem seus temores com o real, que acreditam que estamos chegando ao fim-dos-tempos e só seremos salvos pela nova vinda do Messias… Porém, quanto mais estudo e me informo sobre a situação de nosso planeta, de sua Natureza devastada, seus rios poluídos, suas florestas degradadas, suas inúmeras espécies extintas, seus tragédias radioativas (Chernobyl & Fukushima), mais eu me sinto entrando na categoria do “catastrofista esclarecido”.
É só prestar atenção: os alarmes estão soando, nas Nações Unidas, nos Greenpeaces, nas universidades, nos meios científicos, levantando-se como gigantesca onda que tenta fazer-se ouvir contra o Muro de Silêncio e Negação criado para manter-nos conectados à Matrix da apatia. Os assim-chamados “alarmistas” – e nesta categoria dá para incluir Noam Chomsky, Naomi Klein, Eduardo Viveiros de Castro, dentre muitos outros – parecem-me ter chegado às suas conclusões depois de muito estudo, muita pesquisa, muita investigação.
Os alarmistas estão muitíssimo bem informados. E soam os alarmes contra outro tipo de apocalipse possível, imanente ao invés de transcendente, causado pela Humanidade ao invés de pelos deuses, e que não está previsto em nenhum “livro sagrado”… São “só” cerca de 98% dos cientistas do mundo (aí inclusos os climatologistas, ecologistas, ambientalistas etc… para quem tem fome de “experts”!) que dizem em coro: o planeta está em perigo; as geleiras estão derretendo; cidades costeiras serão inundadas; furacões e tsunamis se tornarão epidêmicos; países inteiros – como Bangladesh, por exemplo – irão ser devastados; milhões de novos refugiados irão ser lançados a movimentos migratórios caóticos nas iminentes catástrofes climáticas de que nosso futuro está grávido.
“Eu vi o futuro”, diz Naomi Klein, “e ele se parece com New Orleans depois do Furacão Katrina”. Se você ainda não ouviu os alarmes, procure um otorrino!
E tudo o que precisamos fazer para que a catástrofe se consume é NADA.
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Em 21 de Setembro de 2014, ocorreu a People’s Climate March, maior mobilização já realizada para exigir uma mudança de rumos nesta nossa civilização ecocida que vai em rota de colisão com o Aquecimento Global, sem ter a dignidade de fazer nada a não ser pisar no acelerador.
As marchas ocorreram em paralelo a um encontro de líderes de todo o mundo que se juntaram em Nova York para um “Climate Summit” emergencial. Mega-manifestações foram organizadas não só em Nova York (que recebeu também um grande influxo de ativistas canadenses e de outras partes do mundo), mas também em Melbourne, Paris, Vancouver, Seattle e Rio de Janeiro.
Resta saber como as autoridades de nossas atuais Sociedades de Controle vão lidar com essa erupção de protesto democrático: as tropas-de-choque, as bombas de gás lacrimogêneo e os aprisionamentos-em-massa vão ser novamente o método utilizado para calar a boca dos cidadãos? Veremos as ruas de New York transformadas em campos-de-batalha, como foi em Seattle em 1999 durante o encontro da OMC (e depois em Québec 2001, em Gênova 2008, em Toronto 2010…)?
Um dos maiores dilemas do movimento global que começa a se delinear e organizar, fortalecendo-se justamente no momento em que a crise do Aquecimento Global se exacerba, é descobrir como quebrar o elo entre, de um lado, o capitalismo industrial produtivista, consumista, com sua lógica ecocida e de vista-curta, e de outro lado, seu braço armado de militarismo bronco somado a um complexo prisional com elefantíase (e ainda faminto por encarceramentos). A radicalização das lutas por um planeta que possa prosseguir sustentando a vida muito provavelmente irá ser acompanhada também por um aumento exponencial da violência repressiva contra eco-ativistas e marchas populares reivindicatórias.
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RECOMENDAMOS!
Documentário completo DISRUPTION – assista, reflita, espalhe, mobilize! Gaia agradece.
Disruption (Full Movie, 2014)
A Film by Kelly Nyks & Jared P. Scott
IMDB http://www.imdb.com/title/tt3398380/
Watch, download + share the movie http://watchdisruption.com/download/
Publicado em: 26/08/18
De autoria: Eduardo Carli de Moraes
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